Amigas e pioneiras no apoio
Pioneiro no Brasil, o Grupo de Mães Amigas do Peito surgiu em 1980, por iniciativa da atriz Bíbi Vogel. Participando desde a criação, a professora Rose Teykal (na 1a foto) – mãe de Carolina e Júlia, ambas amamentadas “como manda o figurino”- nos contou um pouco desta história. Veja, a seguir.
Como o Amigas do Peito se define?
Somos um grupo de mães dispostas a apoiar e orientar outras mães na amamentação. O apoio é a base de tudo. Sempre digo que é um tripé: informação, desejo de amamentar e apoio.
Como deve ser esse apoio?
Começa antes do parto, no pré-natal e depois do nascimento do bebê, com o pediatra e demais profissionais de saúde ajudando na amamentação na primeira hora, e depois quando a mãe vai para o quarto. É muito importante ouvir quem amamenta, apoiála, acalmá-la. Nas primeiras horas e dias, o apoio da família é essencial. A mulher bem informada, com apoio em casa, consegue superar as dificuldades que podem surgir, as noites maldormidas…Se a responsabilidade é dividida, tudo corre melhor.
O grupo foi o primeiro no Brasil? Como surgiu?
O Amigas do Peito é o primeiro grupo de apoio de mães genuinamente brasileiro. Sabemos que antes a La Leche League (EUA), em 1979, iniciou um trabalho em Maceió. Mas nascido no Brasil, somos nós. A idéia surgiu com Bíbi Vogel, que teve a filha na Argentina e manteve contato, dentro do hospital, com um grupo coordenado por pediatras, de apoio à amamentação. Bíbi trouxe a idéia, convidou Tânia Costa Rego, Liliane Palatnik e outras mulheres para uma troca de experiências essencialmente entre mães e filhos, sem linguajar profissional. É uma visão de completar o saber científico com o da prática, do afeto.
Como foi o processo de conscientização?
Não foi fácil. Além de termos batalhado na área da saúde e contra a cultura do leite em pó, também tivemos embates com feministas que alegavam, na época, que era perda de tempo. Não entendiam que nossa luta era feminista, mas hoje reconhecem isso. Antes, a amamentação ficava no âmbito da saúde. Mas fatores sociais são muito relevantes. O empregador, as leis são importantes, como essa da licença-maternidade de seis meses. Já cansei de ver mulheres informadas, profissionais de saúde, com as mesmas dificuldades das demais. Então, não é só informação, é necessário apoio. A mulher que se sente pressionada a amamentar não faz isto bem. Precisa ter o seu próprio desejo, sem cobranças e a grande maioria quer.
E a Rede, quando começou?
Nos anos 80, o Ministério da Saúde iniciou um levantamento dos grupos de apoio ao aleitamento materno em todo o Brasil. Em 1981, implantou o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno. Nessa época, criamos o Movimento de Incentivo Nacional à Amamentação (MINA), que cresceu e, em 1991, em Niterói, fizemos o I Encontro Nacional de Aleitamento Materno (ENAM), agora já na sua 10a edição. O evento mudou muito. Hoje é um Congresso com enfoque mais científico. É preciso também, na nossa visão, mais espaço para a troca de experiências destes grupos.

Como ocorre a busca pela ajuda das Amigas?
A mulher chega por indicação de outra, pelo Disque Amamentação ou pela Internet. Sempre indicamos que venham aos grupos e convidamos também as famílias. É importante o olho no olho, ver e ouvir as experiências. Quando as solicitações vêm de outros Estados, encaminhamos pela Rede para as entidades e grupos locais.
E quanto à participação no grupo?
Para se tornar uma Amiga do Peito, é importante que tenha amamentado seu filho da forma recomendada, e que participe das reuniões quinzenais. Fazemos parte do Grupo Técnico Estadual de Aleitamento Materno do Rio de Janeiro. Integramos a WABA e o Conselho Consultivo da IBFAN. O grupo Ammehelpen, norueguês, nos apoiou na aquisição da nossa sede. Atualmente estamos com dificuldades de manter a estrutura e buscamos apoio de uma empresa ou entidade que queira ser parceira. Além disso, nossas metas são manter o trabalho, sobretudo os projetos como o Amamentarte (festa artística com o tema “amamentação”), o Educativo (trabalho pioneiro em escolas, para crianças entre três e seis anos) e o curso livre de formação de grupos de apoio. Quem tiver interesse pode entrar em contato pelo www.amigasdopeito.org.br.