DEPOIMENTOS

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COLCHA DE RETALHOS – 20 Anos das Amigas do Peito

Um dia eu estava vendo um lindo filme que contava a história de várias mulheres contando suas histórias de amor enquanto costuravam uma colcha de retalhos que seria presente de casamento da jovem protagonista do filme. É CLARO QUE PENSEI LOGO NA GENTE, AMIGAS DO PEITO! Foi assim que nasceu a idéia de “escrever a história” das Amigas, costurando… Eu só não imaginava que me daria tanto trabalho… e tanto prazer! Sinceramente, sem falsa e boba modéstia, acabou virando uma preciosa obra de arte, criação coletiva das AMIGAS DO PEITO!

Para a festa dos 20 Anos das Amigas do Peito, no Museu da República, no Rio de Janeiro, em maio de 2000, convidamos as participantes do Grupo a contar nossa história através de uma colcha de retalhos. Cada mulher fez um pedaço de tecido bordado, costurado, colado, fotografado, contando sua participação em um ano do Grupo. Foram mais ou menos 40 retalhos, costurados sobre um forro de aproximadamente 3 x 10 metros, com as mais diversas abordagens relacionadas à amamentação: adoção, gêmeos, gravidez, parto, vários filhos, participação política, assembléia constituinte, casamento, feminismo, vida familiar, ecologia, maternidade, paternidade…

1-Rose Teykal, 2-Vaniza Schuch, 3-Zilda Magalhães, 4-Emi Horigome, 5-Anilza Nolasco, 6-Maria Pia Rosa, 7-Claudia Orthof, 8-Regina Sermento, 9-Claudia Imenes, 10-Bibi Vogel, 11-Maria Lucia Futuro, 12-Virginia Palmier, 13-Beatriz Azeredo,
14-Mariana Rosa, 15-Wilma Bruno, 16-Andrea Barroso, 17-Vera Andrade.

Passei semanas costurando, emendando os retalhos, me emocionando muito, lembrando de pessoas e histórias já esquecidas. Fiquei muito feliz em reencontrar antigas amigas e fazer novas. Minha enteada e filha adotiva Maria Pia costurou um lindo retalho contando a amamentação de seus dois filhos, Rodrigo e Gabriela por mais de dois anos. Liliane Palatinic contou a história de sua filha amamentando. Me dei conta de que era a história da terceira geração das AMIGAS…Até a noite anterior ainda chegavam retalhos das retardatárias e por mais que eu vociferasse impropérios ao telefone, acabei costurando a noite inteira todos os pedaços. De madrugada, minha filha Mariana, chegando da rua me premiou o esforço dizendo que também participaria! Desisti de dormir e me preparei para continuar regando a colcha com lágrimas, me lembrando de minha mãe que adorava o poema de Fernando Pessoa: “ó mar salgado, quanto do teu sal, são lágrimas de Portugal…”

Algum tempo depois, ou seja, quase de manhã, Mariana voltou com um pano desenhado. Ela havia copiado um quadro que tem no quarto dela, que meu avô, que era pintor, havia desenhado. É um desenho datado de 1980, ano da fundação das AMIGAS DO PEITO e do nascimento da Mari. Mostra uma mulher amamentando uma menina: Nós duas. No canto, ela parodiou uma letra de uma música de Vinícius e Toquinho: “sua filha sonha acordada, com o filho que ela quer ter…”

Nem preciso contar que a colcha ficou úmida e salgada… No dia seguinte, a colcha estava enorme e pesadíssima, mas meu filho alpinista Francisco escalou a parede do Museu com cordas e amarrou a colcha lá em cima e depois nós comemoramos tirando esta fotografia aí em cima que você pode ver, se emocionar e imaginar… Cada uma dessas mulheres amamentou e compartilhou e acreditou na solidariedade e na amizade. Cada uma de nós é um elo de uma corrente e você também pode ser!

Claudia Orthof Pereira Lima – julho de 2003.



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